em Meditação

A palavra obediência, geralmente, nos conduz internamente a um lugar de muita
resistência, pois ativa em nós, memórias infantis e ancestrais dolorosas e desagradáveis.
Quando pensamos em obediência, pensamos consciente ou inconscientemente em
nossas experiências infantis, nos momentos em que tivemos que nos submeter, em que muitas
vezes, fomos obrigados a fazer coisas que não gostaríamos de fazer; ou, não pudemos fazer
coisas que queríamos muito fazer. Pensamos também, consciente ou inconscientemente, nas
terríveis experiências que a história da humanidade nos traz, reforçando a carga negativa dessa
palavra. Essa palavra ativa em nós registros mnemônicos de eras passadas, períodos de
escravidão, imposições religiosas, invasões e dominações. Todos esses registros nos trazem
muita dor.

Assim, a palavra obediência ficou associada à submissão, subjugação, humilhação,
subordinação, impotência, ausência de controle e medo, despertando em nós muita resistência.
Essa associação faz sentido, frente a muitos fatos que ocorreram no passado, pois, a obediência
era exigida e imposta por forças externas maiores. Também é verdade que em nossa história de
vida pessoal, em muitas situações, a obediência significou de fato, submissão, pois a
humanidade dos nossos pais os levaram, muitas vezes, a impor sua autoridade dessa forma,
submetendo, subjugando, infligindo medo. Essa é uma expressão humana equivocada do poder,
quando estamos desconectados de nosso Centro Divino de poder, e não sabemos manifestar
nosso poder real. Foram grandes as dores vividas e infligidas na história da humanidade e em
nossa história pessoal, por esse equívoco em relação ao poder.

Por causa desses registros, o medo e a submissão são traços fortes e decisivos, ainda
hoje, dificultando o contato com nosso Centro de poder pessoal e sua expressão, como dizia
Jung, com nosso Self. Uma outra reação como consequência desses registros acontece, quando
adotamos uma atitude defensiva, de rebeldia e resistência quanto a deixar-nos guiar, mesmo
quando a guiança parte de dentro de nós, de nosso Centro de Poder, pois nessa confusão não
sabemos discernir.

Reagimos aos registros internos que trazemos e não à realidade em si. Adotamos uma
postura frente à realidade, como se fôssemos totalmente impotentes e não tivéssemos nenhum
controle da situação, assim como era em épocas passadas e, na nossa infância, quando, em
muitos momentos, não tivemos realmente nenhum controle. Hoje, como adultos do século XXI,
dispomos de muitos recursos internos e externos para lidar com qualquer abuso de autoridade
que possa ocorrer, o que não era possível em épocas passadas.

OBEDIÊNCIA COMO SUBMISSÃO E COMO INDEPENDÊNCIA

Esse equívoco que trazemos, como registro emocional e celular da palavra obediência
como sinônimo de submissão, faz com que percamos a conexão com ela, em sua expressão
saudável e construtiva, na expressão de sua Luz.
Assim, podemos discernir dois tipos de obediência: a obediência passiva e a obediência
ativa.

A obediência passiva é sinônimo de submissão, é voltada para a autoridade externa.
Na obediência passiva, não temos controle da situação, uma força maior se impõe sobre nós,
isto aconteceu muito no nosso passado. Podemos considerar também obediência passiva,
quando nos submetemos, deliberadamente, aos outros, ou a alguma autoridade externa por
medo ou por interesse próprio, por exemplo, para termos “segurança”, para termos “amor”,
para sermos guiados e assim, sentir-nos “protegidos” e não nos responsabilizarmos.

A obediência ativa é sinônimo de independência, é uma escolha consciente, voltada
para autoridade interna. Escolhemos conhecer e nos conectar ao nosso Centro de Poder real, à
nossa autoridade interna, e seguir as orientações que vêm desse Centro. Desenvolvemos nossa
intuição e auto percepção, confiando nelas. Na obediência ativa, a segurança vem de dentro, a
proteção e o cuidado também. Não dependemos do amor e aprovação dos outros, nos amamos,
somos amados, nos sentimos amados por nós mesmos. Transitamos livres em um mundo cheio
de normas e regras sem nos submeter e sem nos rebelar, mas lidando com elas a partir de nossa
autoridade interna.

Na obediência ativa, nos damos, nos entregamos, fazemos por amor, realizamos por
amor, um profundo amor que nos traz contentamento, realização e plenitude. O que nos move
nessa entrega profunda é a obediência. Obediência ao Chamado, à guiança de nosso Centro de
Luz, poder e força. À autoridade que vem desse Centro, obedecemos sem restrições,
respondemos aos chamados, vamos aonde somos conduzidos, fazemos o que precisa ser feito,
nos colocamos a serviço, não medimos esforços, não resistimos, não contraímos, simplesmente
nos entregamos e vamos! Somos leais, temos compromisso, somos auto responsáveis,
realizamos nossa tarefa com amor. Essa obediência nos engrandece, nos plenifica.
Nesse sentido a obediência é um Caminho. Um caminho em direção a nós mesmos, um
caminho em direção à nossa unificação com o princípio divino em nós, um caminho de
desprendimento do nosso pequeno eu, um caminho de serviço, um serviço humilde, por isso
grande.

A LUZ E A SOMBRA DA OBEDIÊNCIA NO CRISTIANISMO

Podemos ver no Cristianismo, a grandeza da obediência enquanto expressão da luz.
Quão humilde e grandioso serviço prestou à humanidade a Sagrada Família.
Jesus Cristo na condição de humano, viveu todas as dores que essa experiência Lhe
trouxe, pagando um alto preço, em obediência ao Pai, Nele; em obediência ao Seu Serviço, em
obediência à emanação do Seu Ser, da Sua Luz. O amor torna isso possível e plenifica. O que
parece aos olhos humanos uma terrível dor, uma morte de cruz, aos Olhos Divinos é plenitude,
é ressurreição. Ainda podemos sentir essa plenitude, a irradiação desse amor, fruto da
obediência. Uma obediência ativa ao Pai, ao Serviço do Ser.

Maria, uma menina adolescente, vivendo em uma época em que a sexualidade feminina
era muito reprimida, em que a mulher era muito pouco considerada, diante do anúncio de uma
gravidez ela, mesmo com suas hesitações humanas, simplesmente respondeu ao anjo: “Eis aqui
a Serva do Senhor. Faça-se em mim Segundo a Vossa Vontade! ” Tamanha obediência! O anjo
Gabriel é um Mensageiro de Deus, simboliza a Voz do Deus dentro, do Núcleo Divino em cada
um de nós. A essa voz, nós não questionamos, apenas respondemos: “Eis-me aqui! ” “Faça-se
em mim segundo a Vossa Vontade! ” Maria sabia disso, estava em sintonia com seu Centro, com
seu propósito, com Seu Deus.

José também sabia disso. Ele também escutou a voz do Mensageiro de Deus, estava em
sintonia com seu Centro de Luz e poder. Dedicou sua vida a proteger Maria e a Criança Divina.
Modelo de marido e Pai. Cumpriu lindamente sua função masculina no maravilhoso Projeto
Divino. Esse era Seu Serviço! Seu propósito! E ele foi leal a ele até o fim. O que o anjo lhe pedia
para fazer, ele fazia, onde pedia que fosse com Maria e o Menino, pela segurança dos dois, Ele
não questionava, simplesmente ia. José foi um guardião. Guardião da humanidade quando
cuidou e preservou a vida física de um Grande Mestre que, naquele momento se encontrava
Menino e estava impotente diante das ameaças que o envolvia.

Assim também aconteceu com os discípulos. Todos foram obedientes ao Chamado, ao
Seu Serviço, mesmo com todas as suas hesitações humanas. Escutaram a voz do Mestre que os
chamavam, deixaram barco e redes e O seguiram, sem questionar, superando seus medos
humanos, suas dúvidas e incertezas. De novo uma Voz Divina que chama, convida, anuncia a
tarefa. Essa voz é escutada e seguida com obediência, amor, lealdade, entrega.

Assim também foi e é, com todos os Mestres que a humanidade conheceu e conhece.
Todos foram e são obedientes ao Seu Serviço, à voz divina interior, por isso suas Missões foram
e são realizadas e eles se tornam eternos. Eles escutam a Voz que vem das profundezas do seu
Ser e seguem Sua direção. Assim, passam por aqui, realizam o que vieram realizar, deixam suas
pegadas, e voltam para casa. O que seria de nós se não fossem suas pegadas!
Também é verdade que no cristianismo houve muitas distorções, fazendo da
obediência, na sua expressão passiva, um canal de controle e submissão, deixando profundas
marcas na humanidade. Mas isso não ofusca o brilho da obediência ativa contida em sua
doutrina. Na terra é sempre luz e sombra, joio e trigo. Precisamos aprender a incluir tudo para
não jogar tudo fora e extrair de tudo o melhor.

RESISTÊNCIA LUCIFERIANA EM NÓS

Ainda seguindo o pensamento cristão, Lúcifer tomou outra direção. Escolheu separar-se,
seguir por si mesmo, ouvir a própria voz.
Lúcifer representa nossa segunda natureza. Um nível de consciência separado, que
resiste à conexão com nosso Núcleo Divino, nossa Natureza Essencial, que resiste reconhecer,
ouvir e seguir a emanação divina que vem desse Centro. Esse nível de consciência separado
constitui nosso pequeno eu. Acreditamos que esse nível tem a supremacia, assim como na
mitologia cristã, Lúcifer acreditou ter supremacia sobre Deus.

Nesse nível separado criamos nosso próprio mundo, nosso próprio movimento e lhe
conferimos supremacia. Resistimos reconhecer o princípio divino criativo e o amor que emana
Dele, dentro de nós. Resistimos seguir esse movimento, deixar-nos guiar por Ele. Nós O
desconhecemos, ou O ignoramos, ou não confiamos Nele. Mantemo-nos separados Dele,
resistimos a nos entregar, pois acreditamos perder, desta forma, nosso “poder”, aniquilar nosso
movimento próprio e separado. Nesse nível, a obediência nos parece ameaçadora. Além de
trazer todos os registros distorcidos e negativos, relativos a esta palavra, de nossa história
pessoal e ancestral, são ativados também, nesse momento, a resistência Luciferiana existencial,
que é, sem dúvida, o substrato mais significativo, o que tem mais força.

Essa resistência nos faz rebeldes, ignorantes ao nosso Núcleo Divino, desobedientes à
voz, que emana Dele e à sua guiança. Perdemo-nos em caminhos que não são nossos, nos
afastando de nossa tarefa, aumentando nossa insatisfação com a vida e conosco mesmo. O
caminho de “volta para casa” fica cada vez mais distante, e nós, cada vez mais infelizes,
angustiados, tristes, perdidos; pois, a alegria, a satisfação, a realização vêm da conexão com
nosso Centro Divino, da nossa resposta ao chamado que vem desse Centro. Ao sentido que vem
Dele.

DENTRO DE NÓS MORA UM ANJO QUE ANUNCIA NOSSA TAREFA

Sim, dentro de cada um de nós mora um Anjo, pronto para apontar a direção, trazer
clareza, anunciar nossa tarefa, nosso serviço, o que viemos realizar aqui. Só precisamos escutá-lo,
essa voz traz clareza, caminho, direção. Quando não escutamos essa voz, nos perdemos em
confusão, ou vamos buscar clareza e segurança na opinião dos outros; ou, em um Deus externo,
que não é experienciado, mas ensinado e interpretado, um Deus que passa pelo crivo da
imperfeição humana. Ficamos dependentes dos outros ou de uma autoridade “divina” externa
nos submetendo, buscando dessa forma, nos sentir “seguros”. Nessa obediência passiva
permanecemos mais inseguros e confusos ainda, pois traímos a nós mesmos, e, quando nos
traímos, perdemos a direção, nos afastamos de nosso Centro.

A obediência ativa é uma escolha, uma escolha consciente por amor e pelo amor. Uma
escolha que nasce do amor. Alinhamo-nos ao nosso Centro Divino, ouvimos a voz que vem Dele
e seguimos sua direção, o que vem Dele é amor, vale a pena obedecer, pois o resultado é bom,
visa a uma causa maior, visa ao todo, e, ao beneficiar o todo, beneficia a nós mesmos, pois
somos o todo. Essa obediência implica em algumas renúncias, que em nada nos prejudica, ao
contrário, nos engrandece e plenifica; renunciamos a algumas coisas efêmeras pelo absoluto,
ao contrário das renúncias que fazemos na submissão em que renunciamos ao absoluto pelas
muitas coisas efêmeras. Na obediência ativa, nos responsabilizamos, nos comprometemos. Na
obediência passiva ou submissão não nos responsabilizamos, não nos comprometemos,
deixamos que o outro se responsabilize e se comprometa por nós. Na obediência ativa nos
entregamos e fluímos, na submissão nos contraímos no medo, na expectativa, na insegurança,
na confusão.

Só precisamos silenciar-nos e escutar essa voz que ressoa dentro de nós e responder:
“Aonde queres que eu vá? ” “O que queres que eu faça? ” “Eis-me aqui! ” “Que seja feita a Vossa
Vontade! ” E, ter a coragem de deixar o barco e as redes, e seguir, sem questionar, mesmos com
nossas hesitações humanas, seguir confiante.

Na obediência ativa somos humildes, aceitamos o que não podemos compreender, não
precipitamos, esperamos um sinal, confiamos. Não buscamos segurança fora, estamos seguros
dentro, não procuramos desvendar os mistérios, apenas nos entregamos ao serviço que está ali,
ao Chamado. Não há julgamento em relação ao mundo, sua imperfeição, seus desalentos;
transitamos nele e com ele, somos parte dele, encontramos um caminho para realizar o serviço
a que fomos chamados.

José e Maria não encontraram nenhuma hospedaria que os acolhessem para que Maria
desse a luz ao Menino. Recolheram-se em um estábulo onde o Menino nasceu. Quando eram
perseguidos, se retiravam, para outro lugar. Encontravam um caminho… esperavam e seguiam
a orientação do Anjo, não se precipitavam. Assim, o Menino cresceu, cumpriu sua missão,
manifestou o que veio manifestar: Deus. Suas pegadas hoje, são a direção de muitos de nós.
Escutar a voz do nosso Anjo interior e seguir Sua direção significa nos guiar na vida por
nossa autoridade interna. Essa autoridade é pautada em um Deus experienciado que está em
sintonia conosco, pois estamos em sintonia com Ele.

Mas quando caminhamos separados do nosso Centro Divino, seguindo a direção de
nossa consciência separada, perdemos o rumo, buscamos autoridades externas obedecendo
passivamente, nos submetendo, ofuscando nossa luz; ou nos impomos como autoridade
exigindo que outros se submetam a nós, ofuscando sua luz. No primeiro caso, vivemos a ilusão
de que o outro é portador da nossa luz, de que ele sabe qual a melhor direção para nós. No
segundo caso, vivemos a ilusão de que somos portadores da luz do outro, que sabemos a melhor
direção para ele. Em ambos os casos estamos separados de nós, do nosso Centro Divino de
amor, sabedoria e poder. Centro que é a Presença do Pai em nós, cuja Voz que emana Dele,
representa O Caminho, A Verdade e A Vida, que quando escutada e seguida com obediência e
lealdade, nos conecta ao Pai e à Direção que é única para todos nós.

LUCILENE A. SILVEIRA

Mostrando 2 comentários
  • Salvina Maria Silveira Cardozo
    Responder

    trabalho e missão. Gostei muito com certeza vou aprender ouvir e ver mais com os olhosda alma.Continue sempre assim levando luz conhecinento.Parabens Deus abençoe! Amei ler.

  • Dora maria
    Responder

    Nossa q trabalho maravilhoso minha irmã hoje estou vendo como e grandioso o crescimento espiritual q existe em você e q missão de mostrar p o mundo a sua contribuição p com a humanidade temos q impenhar e divulgar tanta grandeza te amo muito

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