em Constelação Familiar

“Amar significa reconhecer que todos os outros são iguais a mim diante de algo maior. Humildade significa o mesmo. Perdoar e esquecer também.”

Bert Hellinger

 

Essa frase de Bert Hellinger nos convida a uma profunda reflexão. Não há nada que nos separa mais dos outros do que nos sentirmos melhores ou piores do que eles. Essa é nossa grande ilusão. É uma defesa frente à condição humana da existência, que inclui nossa imperfeição, nossos limites e, também, nosso potencial divino.

Quando negamos essa condição, quando lutamos contra as frustrações da vida, ao invés de aprender e crescer com elas, quando não concordamos com as dores humanas da existência, da nossa infância, com os limites humanos dos nossos pais e da vida aqui na terra, então nos defendemos dessa frustração e impotência nos elevando em relação aos demais. Negligenciamos nossa pequenez frente ao grande movimento da vida que nos conduz da forma como tudo foi, da forma como tudo é. Assim, ferimos o amor, nos separamos daqueles que vivem as mesmas dores, os mesmos desafios humanos e se defendem da mesma maneira. Ficamos mais solitários, a frustração aumenta, assim como a nossa inabilidade de lidar com ela. Como defesa, acabamos construindo relações superficiais. Querendo nos mostrar cada vez melhores, ampliamos a distância um dos outros.  Tememos ser igual, tememos o espelho que o outro representa e nos reflete.

Numa vertente contrária, nos defendemos, sucumbindo às frustrações, nos colocando inferior aos outros e menos capazes de lidar com tais acontecimentos. Dessa forma, “forçamos” os outros a fazerem algo por nós. Atitude que nos separa dos demais, sobrecarregando-os. Isso também é desamor. Nessa vertente acreditamos ser menos do que somos, tememos a manifestação do nosso potencial, da nossa força, da nossa luz.

A condição da existência na terra é vida e morte, saúde e doença, dor e prazer, alegria e tristeza, bom e mau, divino e humano. Não é possível selecionar alguns desses aspectos e excluir outros. Todos esses aspectos são intrínsecos a todos os seres humanos. Quando excluímos alguns desses aspectos em nós, os atribuímos, em um mecanismo projetivo, aos outros. Temos a tendência de querer excluir de nós tudo que nos desagrada. Assim, tendemos a exagerar os aspectos que consideramos positivos em nós e a negligenciar os aspectos que consideramos negativos. É nossa estratégia para nos sentirmos melhores, e faz parte dela excluirmos dos outros, muitas vezes, seus aspectos positivos, assim os diminuímos em relação a nós e reforçamos nossa ilusão de superioridade.

Assim, adotamos uma visão turva e equivocada da realidade. Ao acreditarmos ter algum privilégio em relação aos outros, entendemos que não estamos submetidos às mesmas Leis.

Podemos também, exagerar nossos aspectos negativos e os aspectos positivos dos outros. Exagerar nosso sentimento de impotência e incapacidade frente aos desafios da existência, como se fôssemos mais fracos que os demais. Essa atitude expressa nossa resistência em manifestar nosso potencial divino, em assumir nossa força e nosso poder pessoal. É uma forma dissimulada de acusação à vida, ao Criador, que se estende e se materializa na acusação aos pais, aos ancestrais, à família como um todo, ao próprio destino.

Ao nos diminuirmos diante de nossa própria força, diante de nosso potencial divino e criador, somos conduzidos às frustrações, à não realização e consequentemente à culpabilização da vida, do mundo, dos pais, dos outros.

Quando concordamos com a condição da existência na terra, incluindo os aparentes opostos, então podemos abrir mão da luta contra qualquer coisa. Bert Hellinger nos diz que então podemos experimentar a paz. Esse é o estado de paz: a concordância de que tudo é como é. Isso também é humildade, é fé, confiança no Poder maior que nos conduz, no Princípio Criativo que está sempre criando algo novo com aquilo que nos parece ameaçador e que nos esforçamos por evitar, em nós, nos outros, no mundo. Os aparentes opostos fazem parte desse mesmo movimento e se unificam nele.

Quando há concordância com a vida exatamente como ela é, então podemos aceitar como somos, como é a nossa família, assim como todos os outros seres humanos são. Não há mais lugar para julgamentos e acusações. Todos estamos submetidos às mesmas condições da existência na terra: vida e morte, saúde e doença, dor e prazer, alegria e tristeza, bom e mau. Isso implica em concordar que somos iguais diante da vida, da morte e de suas vicissitudes; somos iguais diante do movimento que nos conduz, somos iguais nas nossas experiencias humanas, nos nossos desafios humanos, por mais diferentes que nossas experiências possam parecer. Nossas experiencias são parte de nosso destino, nisso elas são diferentes, pois cada destino traz o que ficou em aberto da própria história, da história dos ancestrais e da família como um todo. Esse destino pode ser pessoal, familiar, coletivo, no que diz respeito ao país que nascemos e a humanidade como um todo. Por trás de cada destino pulsa o movimento criativo conduzindo tudo, renovando tudo, criando continuamente.

Quando realmente concordamos com a vida como ela é, para nós e para todos os seres, no mais profundo de nosso ser, então nos sentimos iguais. Então experimentamos o amor. O amor por nós mesmos, por nossos pais e ancestrais, pelos outros, pela existência aqui na terra, pelo Criador. Ativamos em nós o potencial do amor. Quem ama é grato, sente-se preenchido, e a gratidão gera mais amor, mais nutrição. Nesse estado, somos tolerantes com nossas imperfeições e consequentemente com as imperfeições dos outros, compreendemos que a imperfeição é condição da existência no aqui e agora e que está tudo bem. Tudo está no Grande Movimento Criativo que é perfeito na imperfeição. Nele, há sempre um propósito, que aparece para nós como um grande mistério, diante do qual devemos nos curvar, pois nossa consciência estreita não consegue alcançar ou compreender. Esse propósito nos guia. Quando estamos em sintonia com a Consciência Espiritual sabemos disso, e não nos preocupamos em compreender, apenas confiamos e nos entregamos.

Quando nesse amor nos tornamos tolerantes, então podemos perdoar. Perdoar nossos próprios deslizes humanos, perdoar os outros em seus deslizes humanos.  A concordância com a condição humana na terra torna possível o perdão.

Quando não precisamos nos livrar de nada, na aceitação do que é, nos tornamos auto responsáveis, assumimos nossos atos e consequências sem nos esquivar, sem nos condenar, pois nos reconhecemos e nos aceitamos humanos. Então podemos nos perdoar e seguir adiante, realizando sempre algo de novo e bom na vida a partir dos nossos deslizes.

Da mesma forma, olhamos para os outros conscientes de que são auto responsáveis por seus atos e consequências. Não os julgamos nem os condenamos, pois nos sentimos iguais. Os reconhecemos e os aceitamos humanos, assim como nós. Então podemos perdoá-los quando seus atos nos afetam, pois deixamos com eles a responsabilidade. Confiamos que, assim como nós, podem seguir adiante, realizando algo de novo e bom, a partir dos próprios atos.

Sim, só quando nos reconhecemos como iguais diante de algo maior podemos sentir o amor, ter uma postura humilde e perdoar, pois, como humanos iguais, cometemos os mesmos “pecados”, somos conduzidos pelo mesmo movimento, no qual tudo faz parte, tudo pode ser, tudo é. Esse Movimento conduz a todos nós com o mesmo amor. O que pulsa Nele é o mais puro e sublime Amor. Estamos Nele, esse Amor sublime pulsa em nós.

Lucilene Silveira

 

MEDITAÇÃO

Feche os olhos um pouco e mergulhe dentro de si mesmo. Respire de forma consciente, se conectando com o seu corpo e com sua respiração.

Permaneça um tempo respirando de forma consciente. Observe sua respiração, fique presente em você.

Agora observe sua vida, suas atitudes e comportamentos.

Perceba qual é sua tendência predominante: se sentir melhor ou pior do que os outros?

Como você se comporta quando se sente melhor ou pior?

Observe padrões repetitivos de comportamentos, onde você se eleva ou se diminui diante dos outros.

Como você fica? Como se sente?

Como o outro fica? Como ele responde?

Isso aproxima ou distancia vocês?

Perceba sua solidão.

Fique um tempo aprofundando essa percepção.

Volte agora sua percepção para sua respiração e para seu corpo. Inspire profundo! Expire profundo! Perceba que o ar que você respira é o mesmo ar que todos respiram. O mesmo “Sopro” que te anima, anima todos os seres. A vida que pulsa em você, pulsa em todos os seres. Todos estão submetidos às mesmas Leis, aos mesmos desafios humanos, às mesmas dores. Todos, assim como você, buscam ser felizes, cometem erros, brigam com a existência, brincam com ela, vivem experiencias felizes e dolorosas.

Observe as outras pessoas e suas dores. Seus grandes desafios.

Visualize todos respirando junto com você. Visualize o sol nascendo e envolvendo a todos, da mesma maneira.

Visualize você dando as mãos a todos em um grande círculo. Todos humanos, todos iguais diante da vida que conduz a todos.

Deixe seu coração dizer:

“Eu reconheço vocês como iguais a mim, diante do Movimento que nos conduz.”

“Eu reconheço vocês como iguais a mim, diante de forças maiores que não podemos controlar.”

“Eu reconheço vocês como iguais a mim, na dor que podemos causar, no amor que podemos manifestar.”

“Juntos, seguimos adiante, fazendo algo de bom na vida com nossos deslizes humanos, com nossas dores.”

“Juntos, manifestamos o mais sublime amor que pulsa em nós. Amor que conduz, reconcilia, renova, unifica.”

“Juntos sorrimos, brincamos, celebramos a vida.”

Mostrando 10 comentários
  • Valéria
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    Maravilhoso! Profundo!

  • Glória Costa
    Responder

    Eu reconheço e honro !

  • Jeanne Mara Vaz de Oliveira
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    Eu reconheço! Tenho muito a aprender e apreender!

  • Eliana
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    Obrigada pela belíssima reflexao.

  • Juliana
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    Meu Deus Lu. Consigo ouvir sua voz . Que presente esse texto e presente maior ainda essa meditação ….essas palavras.
    Como é bom o amor que flui de tudo isso. ….
    Fiquei bem tocada.
    Grata Mestra querida

  • Terezinha Schwenck
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    Excelente, profundo. Como tenho que aprender!
    E aplicar!

  • Air Lanuza
    Responder

    Maravilhoso texto Lu!!! A leitura e meditação nos leva para uma energia de muita paz e harmonia. Estou encantada! !! Gratidão!!!!!

  • Dri
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    Sim!!! Maravilhoso!! Uma helper iluminada! Peço a Guiança Divina que continue a inspirar seus pensamentos e sentimentos! Grata Lu!

  • Lucilene Silveira
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    Gente querida, vcs são minha inspiração. O contato com vcs me inspira!

  • Lidiane Anacleto
    Responder

    Lindo! Profundo! Gratidão por caminhar ao lado de alguém com tanta luz!

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