em Meditação

Mães meninas são mulheres que permaneceram fixadas em um estágio infantil do desenvolvimento. Tornam-se mães quando adultas, mas permanecem filhas emocionalmente, presas à dependência emocional, carentes de cuidados e atenção. Quando as mães permanecem meninas, geralmente os filhos, ou pelo menos um deles, movidos pelo seu amor, assumem os cuidados com ela como se fossem eles os pais e ela a filha.

Nessa inversão da hierarquia, os filhos se sentem órfãos, pois não sentem segurança nessa mãe “criança”, demandante.

Por um lado, se movem para cuidar dela, por outro ficam ressentidos, pois gostariam de sentir-se filhos, acolhidos por uma mãe madura capaz de cuidar de si, capaz de acolhê-los.

Essa ferida deixa marcas profundas.

Muitas vezes essa dinâmica se repete nas gerações posteriores quando esses filhos se tornam pais. Ao assumir o cuidado da mãe, eles também permanecem fixados em um estágio infantil, demandante de mãe, e seus filhos, ou pelo menos um deles, movidos pelo seu amor vai tentar suprir suas necessidades infantis reprimidas dando continuidade à inversão da hierarquia.

Essa dinâmica pode ser interrompida se os dois, mãe e filho ou pelo menos um deles toma consciência desse processo e interrompe o ciclo.

No caso da mãe, essa consciência pode despertar nela o desejo de investir em seu autodesenvolvimento, abrindo-lhe possibilidades para o reconhecimento de sua força e poder inerentes, onde ela possa assumir seu autocuidado liberando seu filho ou filha desse lugar. Seus filhos são filhos da vida, precisam seguir adiante.

No caso do filho ou filha essa consciência pode levar à compreensão de que não é possível para o filho cuidar de necessidades infantis descobertas da mãe ou do pai. Por mais que o filho “se dê em sacrifício”, essas necessidades vão continuar descobertas. Elas o antecedem, tem a ver com a infância da mãe, não tem a ver com ele. Ele pode então voltar para o seu lugar de filho, reconectar com a mãe que o gerou, para além de suas necessidades primárias. Pode viver a frustração de não poder preenchê-la, e receber simplesmente a vida como o presente maior que a mãe lhe concedeu. Pode conectar-se com o fluxo da vida e nutrir-se, superando a “orfandade” instalada na inversão da hierarquia.  Pode se acolher, se cuidar, vir para o presente e ocupar seu lugar dentro da sua família atual, como homem ou mulher para seu parceiro ou parceira, como pai ou mãe para seus filhos.

Esse reordenamento traz paz para todos do sistema.

Lucilene Silveira

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